14/5/2019


15 DE MAIO

Atos nesta quarta (15) devem mobilizar centenas de cidades pela educação e Previdência públicas

Após corte no orçamento e pronunciamentos do governo, manifestações assumem dimensões poucas vezes vistas na história da educação pública no país

‘Não vai ter corte, vai ter luta’. A frase ecoou com força em manifestações locais desencadeadas pelas medidas tomadas pelo governo federal para a educação. Saída primeiramente da voz dos estudantes, a palavra de ordem ganhou imediatamente força, adéptos e aplausos. Referia-se inicialmente aos cortes anunciados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, de 30% nos orçamentos das instituições federais de ensino.

A canetada foi de dimensões e impactos considerados violentos por instituições acostumadas a uma sequência de cinco anos de cortes, chegando a ser apontado como inassimilável e desastroso por reitores e diretores. Mas o grito que ecoou nas ruas expressa mais do que a rejeição a essa medida fiscal: sintetizou a resposta de quem constatou que o governo do presidente Jair Bolsonaro está em guerra declarada contra toda a educação pública. 

É com esse sentimento que o país viverá, nesta quarta-feira (15), o que provavelmente se constituirá numa das maiores greves da história da educação no Brasil. Poucas vezes se viu nas universidades e institutos federais públicos do país tanta movimentação, fora de um período de greve prolongada, em torno da defesa da educação e de direitos ameaçados.

O ministro

O anúncio dos cortes veio acompanhado de declarações hostis aos ambientes acadêmicos e científicos federais - todos ou quase todos muito cobiçados por qualquer estudante ou pais de estudantes. São instituições que lideram quaisquer dos ranqueamentos que tentam avaliar e quantificar a qualidade do ensino.

A combinação da hostilidade - que incluiu a acusação de balbúrdia às universidades, declarações de desprezo para áreas humanas como Filosofia e História, e desprezo pelo conhecimento científico - com o corte generalizado nas verbas que mantém estas instituições funcionando provocou uma verdadeira rebelião nos campi de Norte a Sul do país.

Caldo engrossado com a constatação, poucas horas depois, que a tesoura do ajuste fiscal também passou afiada pelos montantes orçamentários federais que vão para a educação básica nos estados e municípios. O corte também neste segmento escolar derrubou o argumento dado horas antes pelo ministro para justificar a subtração das verbas universitárias, de que se estava cumprindo uma promessa de campanha de valorização da educação básica em detrimento do ensino superior. O impacto da reação que veio das ruas pode ser medido pela cena inusitada do ministro, ao lado do presidente da República, tentando explicar e minimizar o corte com bombons de chocolate.

Recepção a Bolsonaro

O ato desencadeador de uma série de outros nas ruas foi dado pelos estudantes do tradicional e centenário Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Eles transformaram a visita do presidente Jair Bolsonaro ao Colégio Militar, no dia 6 de maio, em uma grande dor-de-cabeça para a Presidência da República. Sob um forte aparato militar montado para protegê-lo, que incluía três caminhões da Polícia do Exército, Bolsonaro não deixou de ir à atividade na Tijuca, bairro do início da Zona Norte carioca.

Mas não foi visto nem entrando nem saindo do também tradicional Colégio Militar, numa cena incomum a políticos populares e rara entre presidentes ainda em início de mandato. Do lado de fora, uma multidão de estudantes - boa parte do Colégio Pedro II, mas também de outros institutos públicos federais e estaduais -  instalou-se nas proximidades da entrada da escola militar, que fica quase em frente a uma das unidades do Pedro II. As imagens do ato circularam em alta velocidade pelas redes sociais e impactaram: a juventude voltava às ruas.

Educação vai às praças

É neste clima que as manifestações nacionais em defesa da educação e contra a reforma da Previdência, marcadas para 15 de maio, quarta-feira, vão acontecer em provavelmente centenas de cidades do país. Haverá paralisação nas universidades e escolas, aulas públicas nas praças, exposição de pesquisas, atos e passeatas unificadas. Educadores de escolas privadas também vão parar e participar dos protestos.

Além da defesa da educação pública e da Previdência, os atos vão levantar a bandeira da revogação da Emenda Constitucional 95, que asfixia o orçamento dos serviços públicos ao impor uma espécie de congelamento global no orçamento do setor. A participação deverá extrapolar o campo da educação, com a adesão de trabalhadores de outras áreas, incluindo os trabalhadores e trabalhadoras do Judiciário Federal e do Ministério Público da União - muitos sindicatos da área estão convocando os servidores a apoiar e fortalecer o protesto, cujas bandeiras extrapolam a segmentação profissional.

Tudo indica que serão as mais expressivas manifestações contra as políticas adotadas por Bolsonaro no país. Podem marcar a volta das mobilizações nas ruas, a 30 dias da data da greve geral contra a reforma da Previdência de Bolsonaro convocada pelas centrais sindicais para 14 de junho.

 

LutaFenajufe Notícias

Por Hélcio Duarte filho

Terça-feira, 14 de maio de 2019



Hélcio Duarte Filho