6/2/2019


ATO

Segundo ato em defesa da JT ocorre após maior "acidente" de trabalho da história do país

Acidente criminoso da Vale em Brumadinho "desmonta" com sangue e mortes discurso de Bolsonaro contra direitos trabalhistas; ato acontece no DF

Quinze dias separam o primeiro ato conjunto convocado para defender a Justiça do Trabalho e o desta terça-feira, dia 5 de fevereiro de 2019, em um salão na Câmara dos Deputados, em Brasília. No entanto, a distância, sob certo ponto de vista, é bem maior: há entre eles uma tragédia que também é, possivelmente, um dos maiores acidentes de trabalho da história da humanidade.   Inevitavelmente, a lama e o sangue de trabalhadoras e trabalhadores mortos em Brumadinho (MG), após o rompimento da barragem da Vale, são parte da denúncia que o segundo ato nacional contra a ameaça de extinção da Justiça do Trabalho dá continuidade. Manifestação que defende ainda os direitos trabalhistas e sociais e, em certa medida, a revogação da reforma aprovada no ano passado.   "Informalidade"   Em dezembro passado, pouco mais de um mês antes do desastre da Vale, já eleito presidente, Jair Bolsonaro se reuniu com deputados do DEM para buscar apoio da legenda. A conversa foi transmitida ao vivo por um deputado nas redes sociais. Em dado momento, Bolsonaro afirma que a pretensão de seu governo com relação às leis trabalhistas é deixá-las quase nas mesmas condições do trabalho informal. Em seguida, volta a repedir o bordão de que no Brasil os trabalhadores têm direitos demais.    Bolsonaro sabia que estava sendo filmado. Portanto, o que disse foi pensado e um recado do que pretende. Já no início de janeiro, como que dando continuidade àquele discurso, disse em entrevista ao SBT que, "se houver clima", pretende propor a extinção da Justiça do Trabalho.     Não havia completado um mês de novo governo, quando uma barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho (MG), se rompeu jogando um mar de lama, provavelmente tóxica, sobre centenas de trabalhadores da própria empresa, além de moradores da região. As buscas ainda acontecem, mas já são 135 mortos e mais de uma centena de desaparecidos.    De forma trágica, mas não inesperada, a realidade jogou lama e sangue nas palavras do presidente recém-eleito, que vê excesso de direitos trabalhistas no país. São centenas de mortos num desastre que o sociólogo Rui Braga, da Universidade de São Paulo, já apontou como provavelmente um dos três maiores acidentes de trabalho da história mundial. A Vale, uma das maiores empresas do país, pôs o refeitório de seus empregados a cerca de um minuto da lama que os poderia matar caso a barragem rompesse.   “O discurso do Bolsonaro é o discurso liberal, onde o direito do trabalhador atrapalha, mas é só um discurso. [O que ocorreu na Vale] desmente totalmente esse discurso”, afirma o servidor Henrique Salles, da Justiça do Trabalho de São Paulo e diretor do sindicato da categoria, o Sintrajud-SP. “Na verdade, está tudo ligado:  partir do momento em que você privatiza a Vale e percebe um desmonta sindical, de um lado, e do outro o Estado não fiscalizando, você chega [a essa situação]. Se você tivesse o sindicato fiscalizando dentro da lei ambiental; se tivesse o sindicato atuando, protegendo seus trabalhadores, dificilmente você teria um refeitório a um minuto de uma barragem que explodiu e ninguém teve nem chance de escapar”, disse, pouco antes do início do ato em Brasília, num já quase lotado auditório Nereu Ramos.  

 



Hélcio Duarte Filho