26/9/2017


PREVIDÊNCIA

Governo defende no STF aposentadoria especial de 33 mil para deputados

AGU enviou parecer ao Supremo contestando ação movida pelo Ministério Público contra aposentadoria especial de deputados

Enquanto tenta recolocar em pauta no Congresso Nacional a reforma que pode fixar 65 anos de idade e 49 anos de contribuição como exigências para concessão de aposentadoria plena no Brasil, o governo de Michel Temer defende no STF a manutenção das aposentadorias especiais dos deputados federais. Os parlamentares podem se aposentar recebendo até 33,7 mil reais ou proporcionalmente após apenas dois mandatos de contribuição.

A Advocacia-Geral da União enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal contestando as argumentações da ação de inconstitucionalidade movida, em agosto passado, pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A ação sustenta que o plano de previdência especial instituído pela Câmara dos Deputados em 1997 viola as "regras constitucionais relativas à Previdência Social, além de ofender os princípios republicanos da igualdade, da moralidade e da impessoalidade".

Quando enviou a proposta de reforma da Previdência ao Congresso, em 2016, Temer fez pronunciamentos nos quais afirmava que as mudanças atingiriam a todos, sem distinção. Ao defender a ilegalidade da previdência especial dos parlamentares, Janot disse que ela também é imoral. “É inadmissível a elaboração de leis imorais, cujo único propósito seja privilegiar alguns poucos indivíduos, locupletando-os injustificadamente à custa das pessoas que sustentam financeiramente o Estado com seu trabalho”, assinalou, sobre o Plano de Seguridade Social dos Congressistas.

No parecer enviado ao Supremo, segundo o serviço de notícias "Congresso em Foco", a advogada-geral da União, Grace Mendonça, defende que as regras atuais para os congressistas sejam mantidas. A ministra diz que elas integram as “prerrogativas constitucionais do Poder Legislativo, tendo em vista a natureza política da função exercida”. Argumenta ainda a Constituição Federal "não veda a criação de regimes previdenciários específicos e nem limita a sua existência aos modelos atualmente em vigor”.

A investida do governo a favor da controversa aposentadoria especial dos parlamentares estaria diretamente ligada à busca de apoio entre os deputados, que vão decidir sobre a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção, enviada por Janot ao STF pouco antes dele deixar o cargo.

Mas é também uma forma de agradar a base parlamentar com vistas à possível aprovação da reforma da Previdência, que o Planalto diz querer pôr na pauta da Câmara em outubro, o que é pouco provável, ou pelo menos ainda este ano. O que ninguém duvida é que algo que soa como escandaloso em termos de sistema previdenciário – defender aposentadorias de R$ 33 mil e proporcional com apenas dois mandatos de contribuição – possa ser usado para impedir, por exemplo, que trabalhadores que recebem 937 reais de salário-mínimo jamais se aposentem na vida se não completarem 25 anos de contribuição e 65 de idade.

 

 



Hélcio Lourenço Duarte