1/4/2017


ADEUS À EDUARDA

Menina morta com 3 tiros na escola em operação policial é sepultada no Rio

Criança de 13 anos foi alvejada três vezes por ?balas perdidas?; PMs são filmados executando dois rapazes já rendidos

São 12h45 do sábado, dia 1º de abril. Às 13h, o corpo de mais uma criança, vítima da violência urbana e da ação da polícia carioca, será sepultado. Desta vez, é Maria Eduarda Alves da Conceição, aluna da 7ª séria da Escola Municipal Daniel Piza, em Fazenda Botafogo, na Zona Norte do Rio. A menina foi alvejada com três tiros em mais uma operação não planejada – e com morte de inocentes – perpetrada pela Polícia Militar. No mesmo dia e local, a mesma PM foi filmada executando dois supostos bandidos, já rendidos, feridos e sem condições de reação.

No momento que colegas, familiares, professores e, como sempre, curiosos se reúnem no Cemitério Parque Jardim de Mesquita, em Edson Passos, em Mesquita, na Baixada Fluminense, para o sepultamento da menina, a reportagem conversa por telefone com o diretor da escola, o professor Luiz Menezes, 54 anos, 31 de magistério. Começamos a conversar sobre o ocorrido, percebo uma voz chorosa do outro lado. Pergunto se o diretor está chorando. “Fico com a voz embargada, toda vez que falo sobre isso”. 

Luiz Menezes estava na escola na hora dos disparos. Ao ouvir os tiros, saiu correndo para trazer a sua equipe e alunos para os corredores da escola, lugar que considera mais seguro. O pior já havia acontecido. Maria Eduarda, uma atleta em pleno desenvolvimento e com sonhos de progredir no basquete, estava na quadra da escola e foi alvejada três vezes (há controvérsias sobre o número de disparos). Já estava morta quando chegou ao hospital. Pergunto a Menezes, o que ele acha sobre as costumeiras “atrapalhadas”, é assim que essas ações são sempre definidas pelos superiores, em áreas pobres. “Neste momento, eu quero pensar na reconstrução, em juntar os cacos dos professores, dos alunos, recomeçar um projeto pedagógico, mesmo com pessoas com o coração dilacerado”, diz. Ele, no entanto, não acredita que tenha sido uma execução, mas mais uma operação atabalhoada da PM. 

Luiz Menezes assumiu a direção da Escola Municipal Daniel Piza em 2015. Anteriormente, atuava como diretor-adjunto do Colégio Fernando Rodrigues Silveira, no Complexo do Chapadão, também na Zona Norte, onde estava desde 2010. Conviver com a miséria, a violência e a precariedade com a qual vivem boa parte das crianças cariocas não endureceu seu coração. Está desolado. “Esta foi a primeira e espero que seja a última vez que perco um aluno”. 

A Daniel Piza tem 720 alunos. Pergunto, então, se ele conhecia a menina Maria Eduarda pessoalmente. “Sim ela tinha um certo destaque dentro da escola. Chegou em 2015, com uma rebeldia muito comum em adolescentes, mas através da educação e do esporte foi se tornando, outra pessoa”, diz. Mudanças que ninguém poderá mais conferir.

 

LutaFenajufe Notícias

Por Eliane Salles, em colaboração para o LF Notícias

Sábado, 1º de abril de 2017