29/11/2016


"OCUPA BRASÍLIA"

Em meio a escândalo que ameaça Temer, governo tenta aprovar PEC de 20 anos

Manifestantes veem possível votação da PEC que congela os serviços públicos por 20 anos como inadmissível diante da impopularidade do governo e do escândalo Geddel

O governo de Michel Temer (PMDB) tentará aprovar a proposta de emenda constitucional de maior impacto nas políticas públicas sociais, desde a Constituição de 1988, em meio a um escândalo que alimentou a campanha pelo impeachment e leva até alguns setores mais conservadores a cogitarem o afastamento do presidente. A PEC 55 (241), que congela os orçamentos públicos federais por 20 anos, pode ser votada no Senado Federal nesta terça-feira (29), data de protestos na capital federal.

Na semana passada, veio à tona a denúncia de que o então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira, teria pressionado o então colega de ministério Marcelo Calero (Cultura) para que ele liberasse a continuidade de uma obra embargada em Salvador. Geddel tem interesses particulares na obra – teria adquirido um apartamento de luxo no prédio de 30 andares a ser construído no Porto da Barra, área nobre da capital baiana.

O que faz a denúncia ser mais explosiva é que ela não partiu da oposição, mas do próprio Calero, que afirmou que teria sido exonerado do cargo porque se negou a cumprir o que cobrara Geddel. Mais grave: o ex-titular da Cultura afirmou ainda que o presidente Michel Temer também o teria pressionado a liberar a obra, paralisada por uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão ligado ao Minc.

AP de luxo

Segundo divulgado pelos jornais, os preços dos apartamentos desse empreendimento – La Vue – oscilam entre 2,5 e 4,5 milhões de reais. Há suspeitas de que os interesses de Geddel vão além do apartamento que ocuparia todo um andar de frente para a Baia de Todos os Santos. “O que se comenta em Salvador é que a família dele tem participação no negócio”, disse o servidor Jailson Laje, do Judiciário Federal. A polêmica surgiu porque a obra está situada em área de patrimônios históricos. Além disso, o arranha-céu de 30 andares projetaria sombra sobre a praia do Porto da Barra, uma das mais charmosas e frequentadas da capital baiana. 

Geddel é um velho conhecido da política soteropolitana e já atravessou outras situações complicadas – uma delas ligada a autorizações para esse mesmo empreendimento imobiliário, num caso que teria levado à queda de um secretário municipal. Ao sair em defesa do colega de partido, o senador Romero Jucá (PMDB) disse que Geddel atuava em favor dos interesses da Bahia e não pessoais. O senador Jucá é outro ministro de Temer que caiu do Planejamento após denúncias de corrupção, feitas por um delator da Operação Lava-Jato. 

Tanto Geddel quanto Jucá compunham o núcleo duro do contestado governo Temer – e ambos também integraram os governos petistas. Coube a Geddel a articulação das votações da PEC 55 (241) no Congresso Nacional. Ele é o principal negociador do governo, que cai às vésperas da sessão que pode votar a emenda constitucional, que congela os orçamentos dos serviços públicos federais por 20 anos. Temer admitiu ter conversado com Calero sobre o assunto. Disse que tentava arbitrar um conflito administrativo, sem explicar o que havia de administrativo na peleja.

Nos protestos previstos para esta terça-feira (29), na capital federal, o ‘Ocupa Brasília’, os manifestantes devem lembrar o mais novo escândalo de um governo que acaba de completar seis meses. O servidor do Judiciário Federal Cristiano Moreira, da coordenação da federação nacional da categoria (Fenajufe), considera inadmissível o que está ocorrendo. “É um governo impopular, com uma fragilidade muito grande, que começa a ser questionado com mais vigor nas ruas pela população. É um absurdo que sem qualquer popularidade, sem respaldo e tendo que responder a graves acusações, inclusive a um pedido de impeachment, o governo encaminhe um projeto que altera o regime fiscal e congela gastos sociais por 20 anos sem qualquer debate com a população”, disse o dirigente sindical, que participara das manifestações.

 

 



Helcio Duarte Filho