27/5/2016


GOVERNO INTERINO

Temer e mídia apressam reformas que reduzem direitos

Reformas trabalhista e previdenciária defendidas por grandes empresários podem levar a perdas como redução de férias e da aposentadoria

Parece até combinado. As edições dos dois maiores jornais comerciais do país – a "Folha de São Paulo" e "O Globo" – estamparam nas capas do domingo (22) as duas reformas constitucionais que o governo interino de Michel Temer vem tratando como prioridade: a previdenciária, no primeiro, e a trabalhista, no segundo. Há entre elas algo em comum: ambas são pautadas pelo discurso de que é preciso reduzir custos com o trabalhador – nos dois casos, retirando direitos – para superar a crise econômica.

Também são as mudanças mais defendidas por setores empresariais representados por entidades como a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria). As propostas apresentadas até agora, de modo explícito ou velado, não chegam a ser muito diferentes do que o governo petista de Dilma Rousseff, afastada por até 180 dias após a abertura do processo de impeachment, já apresentava e tentava pautar. Algumas delas, como redução do acesso a pensões por morte e ao seguro-desemprego, chegaram a ser em parte transformadas em lei no ano passado. O que parece ser novidade, porém, é a pressa com que tais reformas estão sendo reapresentadas para serem aprovadas.

É evidente a convergência de discursos dos mais poderosos meios de comunicação do país, das representações do grande empresariado e da recém-empossada equipe de governo em prol da aprovação de tais reformas. A um programa de debates da TV Brasil, o ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, disse que o governo Temer já terá valido a pena se, nos seus possíveis dois anos e meio de mandato, conseguir aprovar as reformas estruturais que, frisou, o país precisa para voltar a crescer. As da Previdência e das relações de trabalho foram destacadas pelo ministro do governo interino, ex-ministro de Dilma.

Com relação à reforma trabalhista, os alvos apontados estão na Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT. Há uma nova ofensiva de setores empresariais para que a legislação deixe de prevalecer sobre o que vier a ser negociado entre patrões e trabalhadores em acordos coletivos. Em período de desemprego em alta, essa modificação é vista por sindicalistas críticos a ela como a legalização do descumprimento de direitos trabalhistas previstos em lei.

 

Legislado x negociado

A reportagem do jornal "O Globo", que assegura ter ouvido uma fonte no Planalto, diz que direitos como "FGTS, férias, previdência social, 13º salário e licença-maternidade, entre outros, continuarão existindo obrigatoriamente, mas serão flexibilizados". Em outras palavras: podem ser parcelados ou até reduzidos. Isso porque, pelo que se pretende, o que está previsto na Constituição Federal estaria a salvo das eventuais 'negociações', mas o que é infraconstitucional poderia ser alterado por meio de acordo entre as partes. As férias são exemplo do que está em risco: elas estão previstas na Constituição, que determina que devem ser anuais e com adicional de um terço na remuneração. Mas o texto constitucional não estipula qual o período ela deve ter – os 30 dias estão fixados na CLT, não na Constituição e poderiam, portanto, serem reduzidos.

Além do governo, de setores empresariais e dos grandes grupos de comunicação, a articulação para rebaixar as leis trabalhistas tem no presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho) outro grande aliado. O ministro Ives Granda Filho também defendeu que o negociado prevaleça sobre o que for legislado. "Penso que a melhor forma de se conseguir encontrar o ponto de equilíbrio em cada setor produtivo seria prestigiar e valorizar a negociação coletiva, permitindo que empresas e sindicatos, que mais conhecem cada segmento, estabeleçam as condições ideais ou possíveis de trabalho", disse, segundo o jornal. Parece à vontade em abraçar uma proposta que, se aprovada, tende a enfraquecer o ramo da Justiça no qual ocupa o posto de chefia mais alto.

 



Hélcio Duarte Filho
LutaFenajufe-Notícias