18/11/2015


UMA LONGA JORNADA

Renan restringe votação a 15min e governo mantém veto por 6 votos

Sob protestos, governo mantém o veto a reajuste do Judiciário; servidores veem legado da maior luta da história da categoria, que deve continuar

Indignação e orgulho foram dois sentimentos perceptíveis em servidores que se manifestaram após a decisão do Congresso Nacional de manter o veto da presidente Dilma Rousseff ao reajuste do Judiciário Federal (PLC 28), às 23h43 da noite de terça-feira (17). A indignação, óbvia, com o resultado e como ele foi obtido pelo governo. Já o orgulho brotava, em meio ao cansaço, da convicção de ter feito nos últimos meses a mais espetacular e singular mobilização nacional da história da categoria.

A indignação tomou voz e corpo nas galerias da Câmara, onde transcorrem as sessões conjuntas, assim que o painel divulgou o resultado. “Eu tenho vergonha desse parlamento”, gritou uma servidora aos deputados e senadores ao conseguir driblar por alguns segundos a Polícia Legislativa, imediatamente chamada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB=AL), para retirar “com moderação”, nas palavras dele, os servidores que ali se encontravam.

O orgulho permeou mensagens divulgadas nas redes sociais pouco depois. “Estou muito orgulhoso, estamos de pé e de cabeça erguida, a categoria não se curvou. Acreditamos que era possível e era, vergonha deve sentir os que só fizera, desacreditar a nossa luta. Talvez se trabalhassem em vez de jogar contra, estivéssemos comemorando agora”, disse o servidor Rui Almeida, da direção do sindicato do Rio Grande do Sul (Sintrajufe-RS).

Votação apertada

O governo manteve o veto ao PLC 28 entre os deputados por apenas seis votos. A apuração de como votaram os senadores não chegou a ser verificada, procedimento comum às decisões já definidas pelo computo dos votos da casa em que a proposta iniciou sua tramitação. Primeiro destaque a ser apreciado naquela noite, a mais polêmica e disputada votação no parlamento brasileiro nos últimos meses transcorreu por breves 15 minutos – tempo apontado por parlamentares contrários ao veto como “recorde”. Logo após a votação, com os servidores já conduzidos para fora das galerias, alguns parlamentares usaram o microfone para criticar o que ocorrera. “Vossa excelência envergonhou o Congresso brasileiro”, chegou a dizer um deles a Renan.

A votação ficou aberta das 23h28 às 23h43. Votaram pela derrubada do veto 251 deputados – eram necessários 257 para que os servidores fossem vitoriosos ali e os votos dos senadores fossem também apurados, o que definiria a questão. Votaram com o governo 132 deputados, 11 se abstiveram. Parlamentares afirmaram que havia ainda 55 deputados no Congresso, naquela noite de jogo da seleção brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo, mas que não votaram.

Um longo dia

O operativo da categoria em Brasília para derrubar o veto neste dia começou cedo. Envolveu milhares de servidores – que se revezaram em tarefas diversas, dentro e fora do Congresso. Por volta das 21 horas, algo em torno de seis mil servidores – do Distrito Federal e de praticamente todos os estados do país – se concentravam próximos ao legislativo, obstruindo um dos sentidos da avenida que percorre a Esplanada dos Ministérios. Outras dezenas de trabalhadores atuavam juntos aos parlamentares na Câmara e do Senado. A categoria fazia barulho dentro e fora do Congresso.

Apesar da derrota na votação, servidores avaliavam que a categoria sai fortalecida dessa batalha. “Temos do que nos orgulhar. Enfrentamos o fisiologismo do Executivo, da cúpula do Judiciário e do parlamento. Enfrentamos o ajuste fiscal que apresenta a conta da crise para os trabalhadores, e por muito pouco não derrotamos o governo”, disse Fred Barboza, servidor do Judiciário em Salvador (BA) e dirigente do sindicato no estado (Sindjufe-BA). “Agora é avaliar qual os próximos passos. Certamente saímos fortalecidos de todo este processo e a nossa luta vai continuar”, concluiu.

Integrante da coordenação da Fenajufe, Adilson Rodrigues destacou que a categoria enfrentou as cúpulas dos três poderes com dignidade.  “Agora é hora de celebrar tudo que fizemos até aqui, nesta campanha salarial que é das mais duras, desafiadora e que nos assegurou maiores saltos de consciência e aprendizados na categoria, ao mesmo tempo que refletimos coletivamente sobre o que mais será necessário fazer para assegurar tudo aquilo que nos é devido. Esta luta vai ter que continuar até uma resolução que garanta a reposição de tudo aquilo que nos é devido”, disse.

Démerson Dias, servidor do TRE de São Paulo e ex-dirigente da federação nacional (Fenajufe), observa que pela primeira vez a categoria pode fazer um embate direto dentro do Congresso, sem que alguém fosse lá negociar acordos rebaixados. Para ele, toda essa luta levou a um amadurecimento e reforçou a ideia de que, embora possa atrair alguns aliados, é na sua própria força que os servidores têm que contar.  “Não foi uma derrota de quem lutou, foi uma derrota de quem não lutou. Quem lutou sai desse processo muito diferente do que quando entrou, uma categoria sabendo se reconhecer, apesar de todas as diferenças”, disse.

Dirigente da federação nacional e do sindicato de Mato Grosso (Sindijufe-MT), Pedro Aparecido avalia que faltar apenas seis votos para que os deputados derrubassem o veto, apesar de toda a manipulação e manobras do governo, demostrou a força de quem se uniu de forma “jamais vista” na sua história. “Isso vai repercutir durante décadas em nossa categoria, que ganhou consciência como classe trabalhadora e dona de sua força de trabalho”, disse. Tudo isso, afirma, terá reflexos nas próximas lutas. O servidor ressalta que os próprios parlamentares, tanto do governo quanto da oposição, reconheceram que nenhum segmento de trabalhadores no Brasil teve a força para chegar onde chegou. “Com o fim do veto, vamos ter que correr atrás de orçamento e obrigar o governo a receber a categoria, com a força que saímos dessa luta”, defendeu.



Hélcio Duarte Filho
LutaFenajufe-Notícias