1/10/2015


DERRUBA O VETO

Disputa por cargos e caixa eleitoral impede sessão e revolta servidores

Mercenários, gritaram servidores em coro para deputados e senadores no interior da Câmara. Nova sessão é marcada para terça-feira (6)

Não houve sessão. Com o Congresso Nacional convertido pelo governo e parlamentares num balcão de negócios no qual o reajuste dos servidores do Judiciário Federal era uma das moedas de troca, lideranças do Senado e da Câmara não chegaram a um acordo para apreciar os vetos presidenciais, entre eles o 26, referente ao PLC 28. Já era noite, nesta terça-feira (30), quando o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que também preside o Congresso, marcou nova sessão para analisar os vetos para a próxima terça-feira, dia 6.

Durante todo o dia, a expectativa em torno da sessão que não aconteceu movimentou o Senado e a Câmara. Servidores de todo o país voltaram a pressionar os parlamentares dentro e fora do Congresso. A sessão convocada para as 11h30 foi mantida, mas não pode ser instalada porque o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ocupou o plenário da Câmara com sessões deliberativas durante todo o dia, o que inviabiliza reuniões do Congresso.

O ‘mercado’ envolvia cargos nos ministérios e a apreciação imediata do veto da presidente ao projeto que admite o financiamento de empresas a campanhas eleitorais, além do reajuste do Judiciário e a proposta de valorização das aposentadorias, também vetada por Dilma.

Tanto o presidente do Senado quanto o da Câmara voltaram a se manifestar contra a derrubada do veto ao PLC 28. Mas não chegaram a um acordo em relação à votação do financiamento eleitoral. Também permeava o impasse a disputa por ministérios, com o PMDB envolvido em brigas internas. Sob o argumento da ‘estabilidade política’, Dilma negocia várias pastas, entre elas a da Saúde, que envolve orçamento de mais de R$ 120 bilhões.

O que aconteceu no Senado e na Câmara neste 30 de setembro deixou servidores indignados. No Salão Verde, passagem para o plenário da Câmara, expuseram cartazes e cantaram palavras de ordem. “Mercenários”, gritaram para os parlamentares e chegaram a lançar notas falsas para eles. “Não somos moeda de troca”, disseram ainda, em coro. “Vendidos”, gritaram em outro momento. Nada foi propriamente organizado nessa hora. Foi a expressão da revolta com o que acontecia.

Externava ainda a impressão cada vez mais evidente de que parlamentares usaram o reajuste dos servidores para barganhar em proveito próprio. Não há obviamente certeza de que haverá sessão na terça-feira (3) e nem sobre o que acontecerá – a tendência não é favorável aos trabalhadores, mas tudo ainda pode acontecer em um cenário ainda tão instável. Os servidores estarão de volta, com as vuvuzelas e a indignação – para cobrar o que consideram um direito e afirmar que a luta vai continuar.



Hélcio Duarte Filho